quarta-feira, 29 de agosto de 2012

TOQUIM BARRETO - O PILOTO ESQUECIDO



Recordando um piloto incompreensivelmente esquecido

António Joaquim Borges Barreto, Toquim para os amigos.

Toquim Barreto passou pelo automobilismo desportivo como um meteoro, numa

curta carreira de apenas três anos, mas onde mostrou todo o seu grande entusiasmo e

coragem que o poderiam ter alcandorado a um lugar muito alto se o destino não o

tivesse impedido de chegar onde ele e todos nós esperávamos.

Inicia-se na competição automobilística em 1964, com 23 anos, na VI Volta a

Portugal, organizada pelo clube "100 à Hora" e, perante o espanto de todos, conquista

o 1º. lugar, vencendo uma prova onde era um estreante a enfrentar adversários muito

mais experientes.

Numa entrevista dada ao Diário de Lisboa a 6 de Dezembro daquele ano, Toquim

diz:

"Sou estreante. Nunca entrei em provas, se bem que conduzo há bastante tempo.

Sinceramente lhe digo: quis avaliar o prazer destas andanças. Não sabia nada disto e

não queria deixar de experimentar as sensações que outros volantes têm tido. Agora

não desisto mais..."

E não desistiu. Primeiro com um Porsche e depois num Ferrari 250 MM (spider

Vignale) que adquiriu a D. Fernando de Mascarenhas.

Em 1955 classifica-se em 7º. lugar no G.P. de Portugal, em 10º. no G.P. de Lisboa,

em 2º. na Rampa da Penha em Guimarães e em 1º., na classe, num Quilómetro de

Arranque.

Em 1956, no G.P. do Porto obtém o 4º. lugar com um Ferrari 750 Monza (spider

Scaglietti) adquirido também a D. Fernando de Mascarenhas.

Compra, então, um Ferrari 500 TRC com que inicia a sua carreiras internacional

nas 10 Horas de Messina onde alcança um 3º. lugar ganhando a "Taça dos Novos".

Parecia estar lançada a via que o transportaria ao seio dos grandes pilotos

mundiais.

Em entrevista dada ao "Volante", em 15 de Setembro, com entusiasmo diz:

"Vou para Itália, onde me demorarei poucos dias, apenas o tempo necessário para

alguns treinos na Ferrari. Depois sigo para França onde no dia 23, em Saint-Etienne

disputarei uma prova de circuito à qual devem correr todos os "bons" e em que eu

correrei oficialmente pela Ferrari."

Perante o espanto do entrevistador, Toquim informa-o: "Exactamente pela Ferrari.

Em Messina já corri pela Ferrari mas agora é verdadeiramente oficial a minha

presença na equipa".

E, em resposta à pergunta do entrevistador se se tornava profissional, Toquim diz-

lhe que "É essa a minha intenção. Tenho 25 anos e reconheço que posso fazer

qualquer coisa interessante. Lá fora escasseiam os corredores novos: julgo que a

ocasião é de aproveitar..."

Porém, o destino não quis que assim fosse e... no dia 30 de Maio, nas "6 Horas de

Forez", espera-o para cortar todos os sonhos de glória deste extraordinário piloto de

quem tanto havia a esperar.

Quando seguia em terceiro lugar, o carro de Piero Carini despistou-se, derruba a

barreira entre as duas rectas da corrida e vem chocar, a mais de 200 km/h, com o de

Borges Barreto, ocasionando a morte imediata de ambos.

O Toquim não morre motivado por qualquer falha mecânica ou humana, mas

porque aquela hora e naquele local estava destinado que outro carro levantasse voo e

viesse cair em cima se si pondo ponto final em todos os sonhos e projectos daquele

que poderia muito bem ter sido o primeiro piloto de Fórmula 1 português com

possibilidade de alcançar lugares cimeiros, pois iria correr numa equipa onde nenhum

outro do seu país conseguiu chegar.

Évora inteira chorou a morte daquele filho querido da terra que depois de lhe ter

proporcionado tantas alegrias com os seus êxitos lhe trazia agora o luto e a dor.

Por entre uma multidão imensa que lhe quis prestar a última homenagem, o caixão

foi transportado aos ombros desde a igreja na Praça do Giraldo, no centro da cidade,

até ao cemitério já fora das muralhas.

Entre as muitas flores que juncavam a sepultura, destacavam-se duas coroas pelo

seu significado: a da família do malogrado Piero Carini e a de Enzo Ferrari que,

assim, prestava a última homenagem a este fugaz representante do "cavallino

rampante".

E, apesar do incompreensível esquecimento a que este grande piloto foi votado no

seu país, no livro dos principais pilotos da Ferrari a sua fotografia lá está com a

legenda, bem significativa da personalidade de António Borges Barreto, o legendário

Toquim:

"...AVEVA CORAGGIO E PASSIONE: É MORTO A SOLI 26 ANNI..."

Fonte: Armando de Lacerda

(A Paulo Piçarra e ao Diário do Sul o meu muito obrigado »» disponibilizou todas as fotografias e artigos

existentes no seu jornal. Armando de Lacerda.)

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